Bolsonaro visita metade das capitais em ano eleitoral

Ex-presidente participou de eventos com 12 pré-candidatos a prefeituras; as viagens se concentram em São Paulo e no Rio, seu principal reduto eleitoral

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) visitou 13 capitais em 2024 até este domingo (21.jul.2024). As viagens se dão em um ano de eleições municipais. Dessas cidades, 11 tem pré-candidatos com apoio do ex-presidente.

A cidade mais visitada foi São Paulo, com ao menos 9 visitas, que incluem o ato realizado em 25 de fevereiro na avenida Paulista, a formalização da escolha do cel. Mello Araújo para vice de Ricardo Nunes (MDB) e escalas que fez para outros destinos.

Na sequência, está o Rio. Trata-se do principal reduto eleitoral de Bolsonaro. Ele foi deputado federal pelo Estado por 28 anos antes de concorrer à Presidência. Além da capital fluminense, ele visitou 13 outros municípios ao longo do último ano.

Goiânia e Fortaleza estão empatadas como a 3ª cidade mais visitada pelo ex-presidente, cada uma com duas visitas.

Leia a lista completa de nomes anunciados e/ou apoiados por Bolsonaro ou pelo PL:

PL QUER 1.500 PREFEITOS EM 2024

Em um levantamento feito pelo Poder360 em maio de 2024, o PL de Bolsonaro tinha 7 pré-candidatos competitivos nas 20 capitais com pesquisas eleitorais. O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, chegou a estabelecer a meta de chefiar o Executivo municipal de 1.500 cidades.

A meta tida como ambiciosa é vista como uma demonstração de força para as eleições de 2026. Ao mesmo tempo, o partido vê incerteza para o pleito, já que Bolsonaro está inelegível até 2030.

Este jornal digital apurou que, internamente, não se discute uma alternativa para 2026, mas demonstrações de apoio e confiança em poder reverter a inelegibilidade a tempo do pleito presidencial. As eleições municipais visam a ampliar esse discurso.

Os escolhidos para a corrida eleitoral levantam as principais bandeiras da direita atual, que incluem pautas de costumes e uma economia liberal. A presença de Bolsonaro nas pré-campanhas “valida” esses posicionamentos e tem sido um fator essencial para o desempenho dos candidatos, é o que avalia o estrategista político Pablo Nobel, sócio da agência PLTK.

Em cada cidade que ele visita, a chegada dele tem um impacto. Reforça não só o chamado ‘bolsonarismo’, mas reforça o campo conservador como um todo. Ele continua, simbolicamente, sendo a grande voz da direita”, disse.

Nas visitas, o ex-presidente tem apostado em mobilizações nas ruas, como motociatas e trios elétricos, somado a uma repercussão digital acentuada. Com transmissões e vídeos curtos das suas falas mais fortes e suas interações com apoiadores.

Essas ações não são novas para Bolsonaro. Durante seu governo, especialmente nos anos da pandemia de covid-19, as motociatas se tornaram uma das formas de mobilização mais usadas pelo então presidente.

Depois de deixar a Presidência, trios elétricos se tornaram comuns nos protestos convocados por Bolsonaro. O que realizou na av. Paulista (SP), por exemplo, teve 2 carros cuja capacidade somada era de 200 pessoas simultaneamente.

As pessoas gostam dessas interações, é uma fórmula que funciona. A combinação da experiência na cidade com um forte impacto digital é o gatilho para conseguir e manter o engajamento desse eleitor conservador”, disse Nobel.

Ao mesmo tempo, o marqueteiro que comandou a campanha do atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que o conteúdo não se limita às bolhas dos apoiadores, mas também criam um movimento atípico nas cidades.

A presença atinge a imprensa local e acaba ecoando a visita, deixando claro na cabeça do eleitor quem Bolsonaro apoia na cidade”, disse o sócio da PLTK.

INDICIAMENTOS NÃO DEVEM IMPACTAR ELEITORADO

No último ano, Bolsonaro e aliados foram alvos de investigações sobre atividades do seu governo. Em 4 de julho, a PF (Polícia Federal) indiciou o ex-presidente e outras 11 pessoas no inquérito sobre o desvio das joias sauditas.

As acusações são amplamente rebatidas e minimizadas pelo entorno e aliados do ex-presidente, que alegam inconsistências jurídicas e perseguições –que são reverberadas pelas bases mais fiéis de Bolsonaro.

O eleitorado tem uma imagem muito bem formada do Bolsonaro e essas denúncias não funcionam eleitoralmente, como um gatilho, para quem está do lado dele. Não cola, essas denúncias não influenciam esse segmento”, disse Nobel.

As acusações têm sido exploradas pela esquerda e por opositores do ex-presidente, mas, segundo Nobel, tem pouca capacidade de “conversão”.

É difícil, esses discursos mais inflamados reverberam na própria bolha, é pregar para convertido. É um instrumento importante manter sua bolha inflamada e engajada. Mas não acredito que isso necessariamente vire voto”, declarou Nobel.